Ex-jogador trocou a bola pela pregação
Esporte, pastor quinta-feira, janeiro 01, 2009
Até 1987, quando começou a dar os primeiros chutes na bola como jogador de futebol profissional, Marcos Jesus de Souza era um simples garoto em busca de fama, sucesso, e com o sonho de vestir a camisa amarela da seleção brasileira. Mas bastou chamar a atenção do ex-técnico Pedro Rocha para começar a aparecer no estádio Santa Cruz como jogador destaque do Botafogo.
Com diversos gols, o atacante logo ganhou fama com o apelido de Marcos Toloco. Trombador, goleador, folclórico. Estas características atualmente não estão relacionadas ao novo Marcos, que tornou-se pastor evangélico da Igreja Batista Àgape.
Continue lendo...
AQUI a vida de Marcos Toloco mudou completamente. Fora dos gramados, o ex-jogador agora é chamado de pastor Marcos, e ministra o culto todas às quartas e sextas-feiras, a partir das 20 horas, e aos domingos, às 19h30, na igreja localizada no bairro Vila Virgínia.
“Eu já tinha vocação para isso. Foi feito um preparo com curso teológico da assembléia de Deus, de Brasília-DF. Também tenho o curso no Instituto Teológico Carisma, do Marco Feliciano. Fui chamado por Deus e hoje sou Ministro do Evangelho”, contou o pastor, que, com o tempo, deixou de lado o apelido que ganhou na época de futebolista. Apelido, aliás, nada comum para a nova fase do ex-atleta.
“O apelido Toloco foi saindo naturalmente e hoje sou mais conhecido como pastor Marcos”, contou o ex-jogador da dupla Come-Fogo, que ainda assim tem o seu apelido associado à atividade em que exerce atualmente. “Existem pessoas me chamam de pastor Toloco, e isso acontecia mais em Santa Catarina, quando joguei no Figueirense. Então eu dizia que era louco por Jesus”, relembrou o sorridente Marcos Toloco, que explicou a origem do apelido irônico.
“Tudo que eu achava impossível eu respondia para os amigos: então estou louco! Eu era júnior do Botafogo quando começaram a me chamar de Toloco. Alguns amigos ainda achavam que eu era dependente químico, mas isso não tinha nada a ver. Nunca mexi com drogas”, afirmou.
Bebida e religião
Hoje com 41 anos, casado com a pastora Lucira Quirino de Souza, e pai de Marcos Vinícius, de 16 anos, Ana Raquel, de 12, e Maria Luiza, de 10, Marcos Toloco contou que já vivenciou de tudo um pouco e que somente a religião foi capaz de afastá-lo de tentações, como a das bebidas.
“A primeira transformação que tive foi o corte do álcool. Nunca mais bebi”, disse o ex-jogador, que utiliza o passado como aprendizado e não esconde o gosto que teve pela bebida.
“Eu bebia muito, gostava da noite. Não era um dependente do álcool, muito menos indisciplinado nos clubes onde passei, mas eu gostava muito de cerveja e uísque. Cheguei a gastar mil reais em uma única noite somente com bebida alcoólica”, conta.
Antes de tornar-se evangélico, Marcos Toloco tentou de tudo. “Já fui católico, espírita, umbandista e mormo. Não sou contra nenhum credo religioso, mas me encontrei na igreja evangélica”, afirmou.
O interesse pela religião começou por acaso, justamente como quem não quer nada. “Eu era atleta quando me converti. Foi em 1994, pelo Glória-RS. Em uma reunião de atletas de Cristo, começaram a ministrar a palavra e eu não entendia nada. Até que comecei a me interessar”, explicou.
Atacante encerrou a carreira no Comercial
Marcos Toloco, o atual pastor Marcos da Igreja Batista Àgape, deu os seus últimos chutes como jogador de futebol profissional vestindo a camisa alvinegra do Comercial, rival do clube que o revelou.
Isso aconteceu em 1999, e de uma forma totalmente inesperada.
“Eu fui até o estádio Palma Travassos para dar uma ajuda a um amigo chamado Michel, que queria passar por testes para jogar no Comercial. Mas o Paulo César Camassuti [técnico do clube, na época] conversou comigo e me convenceu a jogar. Eu já havia parado e já era cristão. Não queria mais jogar futebol. Ainda assim, fiz um gol diante do Mogi Mirim”, contou Marcos Toloco, relembrando a derrota em Ribeirão Preto para o Mogi Mirim por 3 a 1, no dia 10 de outubro, quando fez o único gol do Comercial naquele jogo.
Em sua passagem pelo Comercial, Marcos Toloco disputou dois jogos na Copa Estado de São Paulo de 1999 e marcou um gol, justamente diante do Mogi.
Porém, deixou claro o motivo pelo qual sempre foi torcedor do Botafogo.
“Morei no alojamento do estádio Santa Cruz durante muito ano, cresci lá, e devo muito aos diretores do Botafogo na época. Por isso me considero botafoguense”, contou Toloco, sem deixar de elogiar o Leão do Norte.
“Fui muito bem recebido no Comercial, a minha vontade era de que os dois times de Ribeirão Preto estivessem na primeira divisão”, completa.
Falta de estrutura impediu jogar em um grande
No futebol, Marcos Toloco assinou bons contratos em alguns times brasileiros, o que lhe deu uma boa condição de vida. “Ganhei um bom dinheiro jogando futebol, não fiquei na miséria. Comprei carro, casa, apartamento… Hoje tenho uma vida muito tranquila e não me tornei pastor devido ao dinheiro”, garantiu.
Ainda quando jogava no Botafogo, o ex-atacante ficou na expectativa de ser negociado com o São Paulo, mas a transação não evoluiu. “Na época que jogava no Botafogo, fiquei sabendo através de imprensa que poderia jogar no São Paulo. Só não fui um jogador de time grande por falta de estrutura familiar. Meus pais não participaram da minha vida profissional”, lamentou Toloco, que nunca teve empresário, e hoje conta apenas com uma ajuda de custo para ministrar o culto na igreja ou em cidades da região. “Hoje o retorno salarial é bem menor do que eu tinha no futebol. O dinheiro é bom, mas não se pode amá-lo”, disse. Durante a entrevista, Marcos Toloco fez questão de ressaltar duas pessoas que o ajudaram, tanto no futebol, quanto na vida religiosa. “O Pedro Rocha [ex-técnico do Botafogo] foi uma pessoa que me ajudou muito. Hoje o teólogo André Ronaldo Teófilo é quem está sempre comigo”, diz.
Gol com passe de Raí não sai da memória
Enquanto jogador de futebol, Marcos Toloco foi artilheiro por diversas equipes, mas um gol, em especial, não sai da memória do atual pastor.
Em 1987, no dia 12 de julho, o Botafogo venceu o Guarani por 1 a 0, no estádio Santa Cruz, justamente com gol de Toloco.
“Fiz o gol da vitória do Botafogo sobre o Guarani por 1 a 0, com o Santa Cruz lotado. Recebi um passe do Raí e chutei sem jeito para marcar o gol, sempre lembro desta partida”, contou Toloco, que naquele ano jogou ao lado de atletas como Peu, Camargo, Vílson Tadei, entre outros jogadores importantes que marcaram época no Botafogo no anos 80.
Atacante acredita que fez 500 gols
Artilheiro, Toloco não se recorda ao certo o número de gols marcados na carreira, mas diz, com orgulho, ter formado dupla de ataque com Washington [artilheiro do Brasileirão-08 pelo Fluminense-RJ].
“Fui um atacante velocista e fiz muitos gols. Acho que tenho uns 500 na carreira, nunca me preocupei em anotar a quantidade. No Caxias-RS, fui o atacante do time ao lado do Washington. Fizemos uma boa dupla”.