Unhas pintadas e sobrancelhas feitas ajudam a identificar engano em velório evangélico
Evangélico, morte terça-feira, abril 21, 2009
Francisca Constantina de Souza, de 49 anos, e Helena dos Santos, de 51, morreram no último domingo, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias. As famílias das duas foram comunicadas e iniciaram, nesta segunda-feira, os procedimentos para os enterros. Porém, os parentes levaram as mulheres trocadas para os velórios. Já na funerária, no município de Itaguaí, Daniele Moura, de 25 anos, olhou para a pessoa que estava no caixão e disse que aquela não era sua mãe, Francisca. Enquanto isso, a família Santos velava Francisca como se fosse Helena, em uma capela ao lado do Cemitério de Queimados, na Baixada Fluminense.
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A troca só começou a ser desfeita no início da tarde desta segunda-feira, quando Elias Santos, de 30 anos, foi comunicado sobre a reclamação da família de Francisca (Vídeo: bombeiros retiram o corpo de Francisca do velório em Queimados) . Ele é filho de Helena e estava desconfiado devido a algumas diferenças entre sua mãe e a mulher que estava velando, na capela oito do Memorial Envida, em Queimados. De acordo com os amigos mais próximos, Helena era evangélica e não poderia estar com unhas pintadas e sobrancelhas feitas, como o cadáver que estava no caixão. Ela foi atropelada e levada ao Hospital de Saracuruna no fim de semana, mas não resistiu aos ferimentos e morreu, às 10h45m, de domingo. Ela tinha cinco filhos.
- É uma verdadeira bagunça. Estamos sentindo muita dor. Cometeram um erro grave - ressaltou Elias.
Confirmação por um ‘torpedo’
A família de Francisca estava no Instituto Médico-Legal (IML) de Duque de Caxias, contrariando a versão da Secretaria de Saúde. Com celulares nas mãos, os parentes de Helena chegaram e disseram que também suspeitavam de uma troca. Eles pediram a um amigo para fazer uma foto do cadáver que estava sendo velado em Queimados, e a enviasse pelo celular. A foto-torpedo chegou. Acabou com a dúvida, mas deu sequência ao sofrimento de Daniele Moura. Em uma tela de três polegadas, ela viu a imagem da mãe dentro de um caixão, a mais de 20 Km de distância.
- Eu vi e tenho certeza. Essas pessoas estão fazendo o velório da minha mãe. Olhem o que fizeram com as nossas famílias - afirmou.
Os parentes de Francisca processarão o estado. Segundo o advogado Ricardo Felipe Meira de Carvalho, eles vão denunciar o fato ao Ministério Público, pedindo uma ação criminal. Também moverão uma ação por danos morais e materiais.
- Só com táxi, eles gastaram mais de R$ 700. Sem contar todo o prejuízo psicológico - disse Ricardo.
De acordo com as famílias, se os corpos forem liberados na parte da manhã, serão enterrados ainda nesta terça-feira.
Francisca foi internada no dia 28 de março, em decorrência de um aneurisma cerebral. Na manhã de domingo, o hospital avisou a família sobre sua morte e os filhos, sem condições emocionais, pediram que o ex-marido de Constantina fizesse o reconhecimento do corpo. O engenheiro químico Daniel de Moura Barbosa, de 54 anos, foi ao local, olhou para Helena e, segundo ele, pressionado pelos funcionários da unidade, disse que aquela era Francisca. Após ser declarado sem vida, entre erros e dúvidas, o corpo viajou mais de 170 Km sem ter seu destino definido.
- A gente estava separado há 19 anos. Achei que o cadáver se parecia com a minha ex-mulher e reconheci. Depois, com a certeza dos meus filhos, alertei o hospital sobre o erro e eles mandaram devolver o corpo - contou Daniel.
” Comecei a gritar para alguém me ouvir. Eu sabia que não era a minha mãe ”
Para Daniele Moura, o momento mais desesperador foi o início do velório do corpo que o hospital apontou como o de Francisca. Ela disse que, ao falar que aquela não era sua mãe, foi chamada de louca.
- Comecei a gritar para alguém me ouvir. Eu sabia que não era a minha mãe. Pensaram que eu estava confusa, devido ao nervosismo, mas eu conheço minha mãe e aquele corpo não era o dela - afirmou, aos prantos, Daniele.
A Secretaria estadual de Saúde afirmou que Francisca e Helena saíram do hospital depois de serem reconhecidas pelos parentes, que teriam assinado os termos de retirada. Segundo a assessoria de imprensa, não há possibilidade de ter havido uma inversão. O órgão afirmou que não vai responder por algo que foi confirmado pelas famílias até receber o resultado do exame das impressões digitais.
Fonte: Extra/Via: O Verbo