Pedreiro autodidata que aprendeu a ler com a Bíblia tomará posse na Academia Sergipana de Letras
Biblia, Brasil segunda-feira, março 15, 2010
Evando, com sua paixão, os livros. No quadro ao fundo, uma citação do escritor Tobias Barreto de Menezes.
“São os livros os mestres mudos que ensinam sem fastio, falam a verdade sem respeito, repreendem sem pejo, amigos verdadeiros, conselheiros singelos; e assim como à força de tratar com pessoas honestas e virtuosas se adquirem, insensivelmente, os seus hábitos e costumes, também à força de ler os livros se aprende a doutrina que eles ensinam”. Os versos de Padre Antônio Vieira talvez expliquem a trajetória de Evando dos Santos, de 49 anos. Autodidata, o pedreiro aprendeu a ler com a Bíblia e nunca frequentou uma escola regular. A falta de oportunidade de estudo, porém, não o impediu de descobrir a paixão pelos livros e ajudar a fundar 46 bibliotecas país afora, nos últimos 12 anos.
Agora, a dedicação deste sergipano de Aquidabã para divulgar a importância da leitura e a literatura brasileira será imortalizada. Em junho, ele será empossado pela Academia Sergipana de Letras (ASL) membro correspondente no Rio.
Indicação do presidente
A indicação foi feita em janeiro, pelo presidente da ASL, José Anderson Nascimento, quando Evando deu uma palestra na academia, em Aracaju, sobre sua experiência na Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, na Vila da Penha. Outro acadêmico, Luiz Antonio Barreto, o condecorou com a medalha de mérito cultural Sílvio Romero.
— Deus me deu uma capacidade com a qual às vezes até eu me surpreendo! Se soubesse escrever, o Brasil seria pequeno — brinca Evando, que se define como analfabeto gráfico.
O pedreiro, chamado de Homem Livro pelos acadêmicos, chegou a declinar da indicação. Alegou não estar à altura dela, mas não convenceu os novos colegas.
— O Evando é nada menos que um agente cultural. A nomeação dele é uma forma de homenagear pessoas que se dedicam à leitura e mostrar que a academia não fica só com os graduados e pós-graduados. É uma instituição republicana e democrática — afirma José Anderson Nascimento.“
Evando ao lado do presidente da ASL, José Anderson Nascimento: nomeação e medalha.
Vaga pertencia a professor do Colégio Militar
A ASL tem 20 cadeiras de membros correspondentes, que também são de caráter vitalício, como as 40 cadeiras efetivas da academia — o que fará de Evando um imortal. O pedreiro assumirá a vaga que pertenceu ao escritor Arivaldo Silveira Fontes, que foi professor do Colégio Militar no Rio e trabalhou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio.
— É uma honra ocupar esta vaga. Foi a filha dele quem pagou minha passagem para fazer um arrastão literário (distribuição de livros) em Aracaju.
Na função de correspondente membro, o pedreiro terá que divulgar nomes da literatura sergipana, como Tobias Barreto de Menezes, que dá nome à sua biblioteca, na Vila da Penha, hoje com 55 mil títulos. Nas viagens a Aracaju, terá que bater ponto na ASL para tomar chá e participar das atividades culturais.
— Imagine que um dos acadêmicos é integrante do Supremo (Tribunal Federal), o Ayres Britto... — destaca Evando, citando o ministro que ocupa a cadeira 33.
Sem ajuda financeira
A nomeação tem sido uma alento para Evando, que perdeu a mãe há sete meses. Dona Zelita era uma espécie de mecenas para os projetos da biblioteca. Atualmente, as contas de água e luz estão atrasadas.
— Minha mãe recebia R$ 5 mil como pensionista de ex-combatente. Dizia para ela: “Esse dinheiro é de guerra. Vamos usar o mínimo para comer e investir no resgate de pessoas”. E assim foi feito — explica Evando, que usará na cerimônia de posse um capelo doado pelo escritor Domingos Pascoal de Melo.
“São os livros os mestres mudos que ensinam sem fastio, falam a verdade sem respeito, repreendem sem pejo, amigos verdadeiros, conselheiros singelos; e assim como à força de tratar com pessoas honestas e virtuosas se adquirem, insensivelmente, os seus hábitos e costumes, também à força de ler os livros se aprende a doutrina que eles ensinam”. Os versos de Padre Antônio Vieira talvez expliquem a trajetória de Evando dos Santos, de 49 anos. Autodidata, o pedreiro aprendeu a ler com a Bíblia e nunca frequentou uma escola regular. A falta de oportunidade de estudo, porém, não o impediu de descobrir a paixão pelos livros e ajudar a fundar 46 bibliotecas país afora, nos últimos 12 anos.
Agora, a dedicação deste sergipano de Aquidabã para divulgar a importância da leitura e a literatura brasileira será imortalizada. Em junho, ele será empossado pela Academia Sergipana de Letras (ASL) membro correspondente no Rio.
Indicação do presidente
A indicação foi feita em janeiro, pelo presidente da ASL, José Anderson Nascimento, quando Evando deu uma palestra na academia, em Aracaju, sobre sua experiência na Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, na Vila da Penha. Outro acadêmico, Luiz Antonio Barreto, o condecorou com a medalha de mérito cultural Sílvio Romero.
— Deus me deu uma capacidade com a qual às vezes até eu me surpreendo! Se soubesse escrever, o Brasil seria pequeno — brinca Evando, que se define como analfabeto gráfico.
O pedreiro, chamado de Homem Livro pelos acadêmicos, chegou a declinar da indicação. Alegou não estar à altura dela, mas não convenceu os novos colegas.
— O Evando é nada menos que um agente cultural. A nomeação dele é uma forma de homenagear pessoas que se dedicam à leitura e mostrar que a academia não fica só com os graduados e pós-graduados. É uma instituição republicana e democrática — afirma José Anderson Nascimento.“
Evando ao lado do presidente da ASL, José Anderson Nascimento: nomeação e medalha.
Vaga pertencia a professor do Colégio Militar
A ASL tem 20 cadeiras de membros correspondentes, que também são de caráter vitalício, como as 40 cadeiras efetivas da academia — o que fará de Evando um imortal. O pedreiro assumirá a vaga que pertenceu ao escritor Arivaldo Silveira Fontes, que foi professor do Colégio Militar no Rio e trabalhou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio.
— É uma honra ocupar esta vaga. Foi a filha dele quem pagou minha passagem para fazer um arrastão literário (distribuição de livros) em Aracaju.
Na função de correspondente membro, o pedreiro terá que divulgar nomes da literatura sergipana, como Tobias Barreto de Menezes, que dá nome à sua biblioteca, na Vila da Penha, hoje com 55 mil títulos. Nas viagens a Aracaju, terá que bater ponto na ASL para tomar chá e participar das atividades culturais.
— Imagine que um dos acadêmicos é integrante do Supremo (Tribunal Federal), o Ayres Britto... — destaca Evando, citando o ministro que ocupa a cadeira 33.
Sem ajuda financeira
A nomeação tem sido uma alento para Evando, que perdeu a mãe há sete meses. Dona Zelita era uma espécie de mecenas para os projetos da biblioteca. Atualmente, as contas de água e luz estão atrasadas.
— Minha mãe recebia R$ 5 mil como pensionista de ex-combatente. Dizia para ela: “Esse dinheiro é de guerra. Vamos usar o mínimo para comer e investir no resgate de pessoas”. E assim foi feito — explica Evando, que usará na cerimônia de posse um capelo doado pelo escritor Domingos Pascoal de Melo.
Fonte: Extra / Via: NC